domingo, 14 de março de 2010

Associação identifica mais de 500 casas de ‘taipa’ na Chapada do Apodi

“Casas de Taipa” refletem bem o contraste existente na Chapada do Apodi.
Se na Chapada do Apodi o projeto de irrigação Jaguaribe-Apodi é o maior centro produtor e exportador da fruticultura no Estado do Ceará, no entorno dele existe uma realidade perversa e cruel, no que se refere à moradia popular daquela gente.
Saiba mais: Chapada do Apodi
Nas comunidades que concentram o maior número de residência de trabalhadores do citado projetos, têm um alto índice de casas de taipa em situação de desconforto, e até mesmo correndo risco de desmoronamento.
Um levantamento feito pela a Associação Comunitária São João do Sítio Tomé, através do seu presidente José Maria Filho, aponta a existência de mais de 500 casas em que as pessoas residem em condições sub-humanas.
As imagens aqui expostas retratam a verdade em que flagramos nas comunidades dos municípios de Quixeré e Limoeiro do Norte, a parti do Tomé, Cabeça Preta, Santa Maria, Cabormil, Cercado do Meio, Cabeça de Santa Cruz, Sítio Macacos, Lagoa da Casca, Carnaúbas, Sucupira, KM's 60, 69 e 70.
Fotos: Associação Comunitária São João do Sítio Tomé
Moradores das comunidades visitadas pela equipe de reportagem da TV Jaguar, demonstraram revolta e descrédito, diante do descaso das gestões municipais, que já realizaram vários levantamentos, afirmando ser para a mudança das casas de taipa para alvenaria, mas até hoje nada foi concretizado.
A omissão de projetos por parte das gestões publica municipal, e com o anúncio do Governo Federal do programa ‘Minha Casa, Minha Vida rural’, o presidente da Associação Comunitária São João do Sítio Tomé, Limoeiro/Quixeré, José Maria Filho com o apoio dos Agentes de Saúde de cada área, realizou um levantamento, casa a casa, em todas as comunidades que compreendem o projeto.
Com esse levantamento, Zé Maria trabalha agora junto à Caixa Econômica Federal para aprovação e liberação de recursos que possam viabilizar a construção de casas de alvenaria em substituição as de taipa nas comunidades visitadas.
A crença do líder comunitário de que possa atingir esse objetivo, está na mais recente conquista da associação, que acabou de receber um comunicado da Secretaria Nacional de Habitação, da liberação de recursos no valor de R$ 899.910,00 (Oitocentos e noventa e nove mil, novecentos e dez reais), via Caixa Econômica Federal para a construção de 50 casas na comunidade de Tomé.
As famílias beneficiadas nesse projeto terão que ter renda media de até R$ 465,00 (Quatrocentos e sessenta e cinco reais), representando R$ 17.820,00 (Dezessete mil, oitocentos e vinte reais) investidos pelo Governo Federal por cada família a ser beneficiada.
Informações: TV Jaguar Online
FIQUE POR DENTRO
Histórico
A Taipa em 'Pau-a-Pique' é um processo milenar de construção. Os Portugueses trouxeram-na para o Brasil, quando só havia as ocas dos índios, e a difundiram de norte a sul do país. Tornou-se assim uma das manifestações mais tradicionais de nossa arquitetura, e teve seu período de excelência durante o ciclo do ouro em cidades como Ouro Preto, Congonhas e Diamantina.
Técnica
É o barro armado com madeira. Consiste numa estrutura de ripas de madeira ou bambu, formando um gradeamento, cujos vazios são preenchidos com barro amassado.
Declínio
A técnica vem sendo conservada pela tradição oral, mantendo seu conhecimento no meio rural, com perdas de suas características, qualidades e possibilidades futuras. O preconceito somado à industrialização da construção civil determinaram o declínio deste tradicional processo de construção, que foi definitivamente atingido pela má escolha dos materiais, e no progressivo abandono e esquecimento das práticas de sua feitura.
Discriminação
Relegada como técnica primitiva, desprezada não só pelas elites mas até mesmo pelas camadas populares, este tipo de construção ficou ligado à miséria e traz embutido um caráter de moradia provisória, um abrigo passageiro contra a opressão da natureza.
Transitoriedade
Apesar de tantos obstáculos, milhões de trabalhadores da cidade e do campo, continuam a recorrer a essa técnica de edificação. É a construção possível para a moradia necessária. É a única tecnologia à disposição das camadas pobres da população.
Sua habitação é o exato reflexo de suas condições sócio-político-cultural, sendo produzida a partir de um procedimento artesanal com aproveitamento dos recursos locais disponíveis. Nesse contexto, a casa é apenas mais um item da sua estratégia de sobrevivência, e inseparável de um caráter transitório. Assim, querer produzir uma casa acabada, permanente e estática quando para ele tudo é provisório, dinâmico e improvisado, acaba sendo uma contradição que pode ser entendida como uma projeção de padrões e valores das camadas de maior poder aquisitivo.
Produto Cultural
A casa de taipa é um produto cultural, síntese de histórias e conhecimentos acumulados, resultado da reação necessária e suficiente do homem às hostilidades do meio em que vive e do material que tem a sua disposição.
Cabe ao indivíduo decidir como, onde, quando, e de que forma vai fazer sua morada. Tudo vai depender de suas condições econômicas, físicas e culturais, e do tamanho de sua necessidade.

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