quarta-feira, 17 de junho de 2009

Estouro de fossas preocupa Limoeiro

Em apenas 10% do município de Limoeiro do Norte há saneamento básico. O problema foi exposto pelos temporais deste ano. Mesmo com a trégua das chuvas e o tempo de sol retornando aos poucos, 408 fossas estão desafiando a Saúde do município.
No alto da Chapada do Apodi, na comunidade de Cabeça Preta, em Limoeiro do Norte, ninguém esperava que as enchentes de 2009 causassem dores de cabeça além do previsível. Mesmo depois dos temporais e o alento das chuvas esparsas, nenhum gestor municipal ou morador da serra e de mais cinco localidades imaginava que um equipamento, construído no quintal, se transformaria em um “inimigo”. Lembradas apenas em épocas de “estouro”, quando o odor invade a casa pela cozinha, 408 fossas sépticas viraram o principal “atoleiro” da Coordenadoria de Defesa Civil de Limoeiro.
Em Cabeça Preta, a costureira aposentada Maria de Lurdes Santos, 64, e mais 204 famílias (cinco ainda estão em dois abrigos) foram obrigadas a interditar os quintais das casas para poder voltar após a inundação “histórica” de um trecho da serra do Apodi. As águas baixaram, mas as fossas transbordaram com os temporais de 2009.
Na serra, conta o capitão Osmar Nogueira de Oliveira, coordenador da Defesa Civil de Limoeiro do Norte, mesmo com a volta mais frequente dos dias de sol, a evaporação não consegue “desbrejar” a terra na comunidade de Cabeça Preta.
A explicação encontrada pelo executivo para justificar o fenômeno recai sobre a ocorrência de calcário no solo de lá. “Daí o impermeável e a retenção do que não presta”, observa.
Mas, descendo a serra, a constatação é de que a dor de cabeça e o mau cheiro alcançam outros lugares além da casa de dona Maria de Lurdes e de seus vizinhos. É que Limoeiro do Norte, um dos municípios mais importantes da região do Jaguaribe, com 53 mil habitantes, só possui 10% de área saneada. Situação que deixa vulnerável a saúde pública, segundo avaliação do capitão Osmar Nogueira.
A fragilidade do município na área de saneamento veio à tona com as cheias do Jaguaribe. Pior do que sair com o pires na mão para conseguir dinheiro para reconstruir seis casas destruídas pelas águas e refazer caminhos foi constatar que apenas um carro limpa-fossa faz o serviço de esgotamento do município, que tem uma área de 751 km² (2,4 vezes a extensão de Fortaleza). Às pressas, depois de muito custo, outro veículo foi contratado para o serviço.
Parte dos R$ 200 mil repassados emergencialmente pelo Governo do Estado está sendo utilizado para pagar o único limpa-fossa disponível. Pelas contas do capitão Osmar Nogueira, por fossa esgotada, é cobrado R$ 80. Sem ter onde despejar toneladas de dejetos, a solução foi improvisar uma vala gigantesca no lixão da cidade para dar um destino as resíduos. “Não sei o tamanho do buraco, sei que foram necessárias 600 horas para cavá-lo”, calculou o oficial da reserva do Exército.
E-Mais
>Ironicamente, Limoeiro do Norte recebe hoje a visita do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Na pauta, assinaturas de convênios e programas para despoluição e preservação do rio Jaguaribe, manancial poluído pela maioria dos municípios da região que tem rede satisfatória saneamento básico.
>De acordo com Mauro Costa, superintendente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), as prefeituras de Limoeiro do Norte e Quixeramobim serão beneficiadas com um projeto de saneamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Até dezembro de 2010, 86% da zona rural seria coberta.
>Antes das enchentes de 2009, os dejetos das fossas de Limoeiro do Norte, segundo Mauro Costa, já eram jogados no lixão.
>O esgotamento sanitário ainda é o serviço de saneamento menos oferecido à população, mas já existe em mais da metade (52,2%) dos municípios brasileiros. No entanto, o índice de domicílios atendidos pelo serviço de coleta de esgoto fica em 33,5%.
>O atendimento tem seu mais baixo nível de atendimento na região Norte, onde apenas 2,4% dos domicílios são atendidos. A segunda região com o pior atendimento é o Nordeste, com 14,7% dos domicílios atendidos, tendo depois as regiões Centro-Oeste (28,1%) e Sul (22,5%).
>A região Sudeste apresenta o melhor atendimento em esgotamento sanitário: 53% dos domicílios têm rede geral de esgoto.
>Dos 5.507 municípios existentes no País, 2.630 não eram atendidos por rede coletora, utilizando soluções alternativas como fossas sépticas e sumidouros, fossas secas, valas abertas e lançamentos em cursos d’água.
>Nos municípios, a desigualdade dos serviços prestados se repete: quanto maior a população do município, maior a proporção de domicílios com serviço de esgoto. Os municípios com mais de 300 mil habitantes têm quase três vezes mais domicílios ligados à rede geral de esgoto do que os domicílios em municípios com população até 20 mil habitantes.
>Quanto ao abastecimento de água, este é o serviço mais difundido, oferecido em 97,9% dos municípios brasileiros. O serviço de drenagem urbana está disponível para 78,6% dos municípios, sendo que a coleta de lixo está presente em 99,4% deles.
Informações: OPOVO.com.br, Demitri Túlio e Plínio Bortolotti (textos) Dário Gabriel (fotos).
Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do IBGE (2000) e Prefeitura de Limoeiro do Norte.

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