segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Abuso no uso de agrotóxicos na Chapada do Apodi

Limoeiro do Norte é a cidade que mais sofre com as conseqüências do uso indiscrimidado de agrotóxicos.
O abuso no uso de agrotóxicos na Chapada do Apodi causa preocupação à população de Limoeiro do Norte, e cidades vizinhas. Mas até agora nada foi feito para controlar esse tipo de atividade.
Em 2005, foram mais de mil casos de internamentos devidos à intoxicação por agrotóxicos no Ceará, segundo revelam dados sistematizados pelo Núcleo de Epidemiologia da Secretaria Estadual de Saúde (SESA). O número de internações por intoxicação por pesticida no Ceará passou de 639 em 2004, para 1.106 em 2005.
Embora estes números já sejam bastante elevados, há indícios de que eles estejam subestimados, segundo reconheceu Luciano Pamplona, técnico responsável pela Análise em Saúde do Núcleo de Epidemiologia (NUEPI), da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará. Foram tomados apenas os dados relativos ao Sistema de Informações Hospitalares, que não registra os casos que não necessitaram de internação para tratamento, como pode ser o caso de intoxicações sub-agudas ou crônicas, ou mesmo os casos agudos leves.
Conforme os dados de 2005, os municípios de Limoeiro do Norte, Tabuleiro do Norte e Jaguaribe apresentaram os maiores números de casos: respectivamente, 414, 117 e 99. Foi detectado um alto número de casos também nos municípios de São João do Jaguaribe (70), Alto Santo (69), Quixeré (63), Pereiro (45), Potiretama (37), Jaguaribara (34) e Ererê (30). Todos eles estão na área de implantação de grandes projetos de agronegócio, envolvendo empresas produtoras de abacaxi e outras frutas para exportação.
É preciso que as autoridades públicas responsáveis pela saúde, o trabalho, o meio ambiente, tomem as providências para conhecer melhor esta situação e interromper este ciclo de contaminação, adoecimento e, quem sabe, morte.
A Del Monte Fresh Produce Brasil Ltda., localizada na fazenda Ouro Verde IV, na Chapada do Apodi, Limoeiro do Norte, seria a empresa que mais usa os venenos indiscriminadamente. Além dos prejuízos à saúde, famílias tiveram suas terras desapropriadas, passaram a ser funcionárias das empresas ou foram expulsas para as periferias da cidade.
O caderno Regional, do Diário do Nordeste, divulgou no dia 29/04/2008, uma reportagem especial sobre o uso e consumo de agrotóxico pelos cearenses.
Vejam a reportagem:
Agrotóxico usado de forma indiscriminada no Ceará, alerta Anvisa

O cearense não sabe o risco que corre na ingestão de alimentos tratados à base de agrotóxicos. Que muitos alimentos naturais contêm venenos e são vendidos normalmente para consumo, o relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelou na semana passada, identificando excesso de agrotóxico em algumas frutas e verduras. Mas outras revelações têm passado despercebidas da maioria da população. A primeira é que apenas dois estados da região Nordeste enviaram produtos para análise laboratorial (somente um tem laboratório próprio) e o Ceará, um dos maiores produtores agrícolas do Nordeste Setentrional, não faz parte da lista divulgada pela Anvisa.
A segunda constatação é que a mortalidade por câncer no Vale do Jaguaribe está bem acima da média mundial. Justamente na região em que mais cresce o agronegócio exportador cearense, pequenos e grandes produtores utilizam os venenos indiscriminadamente.
A reportagem constatou que qualquer pessoa pode comprar produtos agrotóxicos em alguns estabelecimentos de Limoeiro do Norte e Quixeré. De acordo com a Anvisa, o comércio do produto deve ser validado por notas fiscais e o descarte das embalagens deve ser monitorado. No entanto, consumidores e vendedores fazem vista grossa para a determinação. Pequenos comércios vendem o veneno como produtos comuns expostos em prateleiras.
Não existem provas da relação direta do aumento dos casos de câncer na região jaguaribana com o consumo de agrotóxicos. O fato de a quase totalidade da produção agrícola da Chapada do Apodi ser destinada para exportação refutaria a relação não fosse o flagrante da venda, nas ruas das cidades produtoras, de frutas que seriam exportadas e, por motivos dentre os quais o excesso de veneno, saíram das caixas de exportação. Em vez de eliminar os produtos irregulares, grandes empresas agrícolas alimentam o comércio informal local fornecendo, a baixíssimo custo, o produto a feirantes.
Outro problema constatado ocorre com a mão-de-obra nos perímetros irrigados. Trabalhadores que lidam com agrotóxicos reclamam de tonturas e desmaios cada vez mais freqüentes. A maioria usa Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), outros confessam que não gostam de usar, mesmo a empresa obrigando. Trabalhadores denunciam que grandes empresas agrícolas, que oferecem até atendimento médico no local, estariam, com esses profissionais, maquiando laudos para desviar a atenção sobre as reais causas das doenças dos trabalhadores.
Casos
O agricultor José Valderi Rodrigues, de Limoeiro do Norte, briga na justiça para conseguir aposentadoria por invalidez, após perder parte da perna direita por uma infecção que, segundo os médicos que amputaram o membro, teria sido causada por uma substância contida nos agrotóxicos que ele jogava na plantação. A empresa, que nega qualquer responsabilidade no caso, não teria fornecido Equipamento de Proteção Individual. O caso já faz três anos.
Outro exemplo é o que acontece, há oito meses, com outro agricultor, Edson Adriano de Carvalho. Ele foi demitido “por justa causa” da empresa Del Monte, em Limoeiro, supostamente por abandono da jornada. Mas a justiça deu-lhe ganho de causa indenizatória, pois comprovou a ausência ao trabalho por conta de internação hospitalar, inclusive com atestado médico. O profissional de saúde que o tratou alertou que a doença estaria se agravando no trabalho. A reportagem tentou falar com a Assessoria Jurídica da empresa, por telefone, mas não conseguiu até o fechamento desta edição.
Informaões: Diário do Nordeste / Reportagem: Melquíades Júnior

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