terça-feira, 2 de setembro de 2008

Cadeirantes pedem “trânsito livre”

Usuários de cadeiras de rodas protestam contra as barreiras arquitetônicas, no caso, obstáculos nas calçadas.
Deveria ser simples, mas o direito de ir e vir, assegurado pela Constituição Federal, que completa 20 anos, ainda é uma conquista diária de cidadãos com iguais direitos e deveres, mas diferentes esforços por possuírem necessidades especiais. Para fugir do desrespeito dos ciclistas, donos de casas criam obstáculos nas calçadas, desrespeitando o direito dos cadeirantes. A Associação das Pessoas com Deficiência de Limoeiro do Norte inicia movimento pelo trânsito livre nas calçadas.
Se para o pedestre já é difícil conviver com tantas bicicletas passeando em cima das calçadas e praças, a situação é mais complicada para os cadeirantes, pois além do mesmo impasse com os ciclistas, carência de rampas de acessos para prédios públicos e calçadas, este segundo pavimento tem sido “enfeitado” com estacas de ferro. Cansadas de não encontrarem solução para a falta de educação dos ciclistas, as famílias resolveram ao seu jeito.
“Mas essa não é a melhor solução. Colocar obstáculo na calçada não vai educar o ciclista. Hoje sou eu em cadeira de rodas, e amanhã, quem será?”, indaga Arnete Borges, presidente da Associação das Pessoas com Deficiência de Limoeiro do Norte. Há três anos a Associação realiza eventos e movimentos pelos direitos das pessoas com necessidades especiais. Tem conseguido o apoio de entidades públicas e também empresariais.
Abaixo-assinado
Na semana passada, a associação pediu e foi atendida na retirada de estacas de ferro na calçada do consultório do odontólogo Carlos Renato, que as colocou para evitar acidentes de seus clientes com os desrespeitosos ciclistas. Uma dia após a visita de Arnete e o mal foi desfeito. “Os ciclistas que precisam se educar, não a gente pagar o mal”, afirma Francisco Chagas, 45, há 25 anos em cadeira de roda após queda do terceiro andar de um prédio.
Até o fim do mês será entregue ao Ministério Público um abaixo-assinado em protesto a todas as calçadas da cidade em que foram colocados obstáculos, obrigando os cadeirantes a se arriscarem no meio da rua, dividindo espaço com motos e carros, muitos em alta velocidade. Há nove anos, desde que sofreu uma lesão da medula óssea, causada por problema neurológico, Arnete convive com a necessidade de sempre ter a companhia de alguém que possa ajudá-la no trânsito pela cidade. Na manhã de ontem, para entrar em um banco (que possui rampa de acesso), Arnete encontrou como obstáculo dezenas de bicicletas estacionadas no meio da calçada. “É um problema cultural, que precisa ser resolvido”, reclama.
O diretor do Departamento Municipal de Trânsito (Demut), capitão Osmar Nogueira de Oliveira, diz que é sempre um caso delicado, mas que, desde as primeiras reclamações da Associação dos Portadores de Deficiência, tem traçado diversas estratégias para combater o problema, inclusive visitando pessoas que colocaram os obstáculos. “É um planejamento a ser executado entre Demut, Ministério Público e Associação de Portadores, mas de forma educativa, sem agressão, na base do entendimento”.
SAIBA MAIS
Infração
Está no artigo 255 do Código Brasileiro de Trânsito: conduzir bicicleta em passeios onde não seja permitida a circulação desta, ou de forma agressiva, em lugares proibidos por lei, é infração média, com multa e apreensão da bicicleta, mediante recibo para pagamento da multa.
Trânsito
A Lei Federal 10.098 (19/12/2000), assegura às pessoas com deficiência o direito de acessibilidade em locais públicos, por meio de rampas apropriadas de acesso e o livre trânsito pelas calçadas.
Mais informações:
Associação das Pessoas com Deficiência de Limoeiro do Norte
Arnete Borges
(88) 9249.5111
www.acessobrasil.org.br
Fonte: Diário do Nordeste (caderno Regional)
Foto e Reportagem: Melquíades Júnior

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