sábado, 15 de agosto de 2009

Pré-Grito: Protesto contra agrotóxicos

Nas comunidades, já se registram casos de câncer, que podem ter sido provocados pelo uso de agrotóxicos.
Um grito que não é de guerra, mas por paz. Eles querem vencer a batalha contra os agrotóxicos da lavoura e contra a captação de água para beber de um tanque com forte potencial de contaminação. Neste fim de semana, moradores de seis comunidades se reúnem na comunidade de Tomé, na Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte, para o "pré-grito", em preparação ao Grito dos Excluídos do dia 7 de setembro. Haverá debate sobre os problemas da localidade e divulgação do resultado do abaixo-assinado com as exigências para serem apresentadas aos órgãos públicos. A comunidade tem um dos mais altos índices de câncer do Ceará.
Moradores contam já ter visto embalagens de agrotóxico no tanque onde é captada água para uso humano. Pesquisadores da UFC acompanham os casos de câncer.
Reivindicação
Os moradores querem a mudança da captação da água para a primeira piscina do Projeto Irrigado Jaguaribe-Apodi, através de tubulação de PVC, e uma estação de tratamento de forma adequada. De acordo com as lideranças comunitárias da região, a água que consomem tem elevados riscos de poluição por agrotóxicos, visto que já foram flagradas embalagens dos produtos químicos na beira do tanque de onde é feita a captação. Além disso, as máquinas que pulverizam agrotóxicos na lavoura também captam água do mesmo local. O problema é denunciado pelas comunidades de Tomé, Macados, Lagoa da Casca, Carnaúba, Cabeça de Santa Cruz, Ipu e Maracajás.
Durante toda esta semana, as escolas das comunidades divulgam para os alunos os males que causam os agrotóxicos ao meio ambiente, e as formas de tornar o meio em que se vive mais saudável. Mas a campanha realizada entre hoje e que culmina amanhã, com todas as comunidades, tem como função conscientizar os próprios moradores, visto que as opiniões na comunidade de Tomé estão divididas: por dependerem do emprego nas grandes fazendas, alguns trabalhadores evitam participar da discussão sobre os agrotóxicos, por temer que isso vá prejudicar as empresas que hoje os empregam.
Num levantamento feito por voluntários da Diocese Católica, de 87 famílias ouvidas (são mais de 500 na comunidade), foram registrados pelo menos 17 casos de câncer, sendo maiores os de mama, pele e estômago. Os moradores acreditam que possa existir uma relação entre os produtos químicos, que os atinge inclusive por pulverização aérea, em mini-aviões que despejam veneno bem próximo às comunidades, e os casos de câncer. Uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), que acompanha há mais de um ano as denúncias de contaminação por agrotóxicos em Limoeiro do Norte, já recebeu os nomes das famílias onde foram registrados casos de câncer.
De acordo com Maria Pequena, da comunidade de Tomé, o problema de contaminação por agrotóxicos e a captação de água em tanque com risco de contaminação é antiga. Outro problema enfrentado, dessa vez pela vizinha comunidade de Macacos, é o depósito de enxofre na terra, para aumentar a acidez do solo e, portanto, as condições de plantio de culturas como melão e abacaxi. O enxofre em pó é arrastado pelo vento e chega até a comunidade. Problema semelhante foi denunciado pelo Diário do Nordeste em 2006, por moradores das comunidades de KM 60 e KM 69 e constatado pela reportagem em visita ao local.
Programação
A programação desta semana e que culmina amanhã com várias comunidades em Tomé será feita de caminhadas com cantos, falas, distribuição de panfletos, exposição de um mural com a "árvore dos sonhos" e o "muro das lamentações", celebração eucarística, bênção e partilha de alimentos, marcando o "pré-grito dos excluídos".
MANIFESTAÇÃO
Grito denuncia desigualdades sociais em todo o Brasil
Realizado há 14 anos no Brasil, o Grito dos Excluídos acontece todos os anos, durante as comemorações do Dia da Independência, no dia 7 de setembro. As manifestações ocorridas nesta data reúnem ativistas sociais e pessoas atingidas por faixas de discriminação social, cultural e econômica, como forma de se contrapor ao discurso oficial de integração nacional.
No Interior do Estado, as pastorais católicas e movimentos sociais participam do desfile de 7 de Setembro na contramão ideológica da data (questionam o termo independência). Os manifestantes realizam em suas cidades apitaços denunciando as desigualdades sociais, o racismo, a homofobia e a exploração econômica perpetrados pelos donos do poder.
O primeiro Grito dos Excluídos foi realizado em 7 de setembro de 1995 e teve como lema: "A Vida em Primeiro Lugar". A iniciativa surgiu a partir das Pastorais Sociais em 1994, em vista da Campanha da Fraternidade promovida anualmente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A campanha apresentava, naquele ano, o tema: "A fraternidade e os excluídos". O Grito surgiu da intenção de denunciar a exclusão nas suas mais diversas formas, além de valorizar os sujeitos sociais. Esta série de manifestações aconteceu em mais de 170 cidades brasileiras e teve como símbolo maior uma panela vazia.
Dessa maneira, o Grito dos Excluídos se contrapõe ao "grito do Ipiranga", feito por Dom Pedro I em 1822, que teria dito a célebre frase "Independência ou Morte", mas que pouco significou para os menos favorecidos de então até os dias atuais. Na programação do Grito dos Excluídos deste ano, no Vale do Jaguaribe, será feito uma grande romaria da comunidade de Tomé até o município de Quixeré, com a participação de várias instituições do Interior e da Capital cearense.
Informações: Diário do Nordeste / Reportagem e Foto: Melquíades Júnior

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