quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Polícia Federal poderá investigar caso Zé Maria

O "Caso Zé Maria" poderá ser o primeiro de violência no campo no Ceará com investigações no âmbito federal. Até o momento, mesmo com investigações já realizadas, ninguém foi preso.
As investigações sobre o caso "Zé Maria do Tomé" podem tomar novos rumos nas próximas semanas. Após quase oito meses de investigação pela Polícia Civil Agrária do Ceará, sem identificar envolvidos no crime e nem ao menos conclusão de exame de balística, por determinação do Ministério da Justiça, dois agentes federais estiveram em Limoeiro colhendo informações sobre o caso.
Encontraram indícios de que as polícias Civil e Militar podem não estar isentas o suficiente para a investigação. Os agentes federais preparam um relatório que será enviado amanhã à sede da Polícia Federal em Brasília para analisar a possível federalização do caso, a primeira do gênero no Ceará. Nem mesmo o caso da missionária Dorothy Stang, assassinada no Pará, foi federalizado.
A Polícia Federal não está nas investigações "ainda", se depender do desembargador Gercino José, presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo. A pedido dele e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, vinculada à Presidência da República, o Ministério da Justiça enviou despacho ao Departamento de Polícia Federal, em Brasília, para que seja analisada a possível entrada na investigação do assassinato do líder e ambientalista José Maria Filho.
Na semana passada, dois agentes federais estiveram por dois dias em Limoeiro do Norte. A intenção era ouvir lideranças, movimentos sociais e pessoas que acompanham direta ou indiretamente as questões sociais na região jaguaribana para sentirem de perto qual o "clima" instalado sobre o caso. Na Diocese Católica, ouviram o pároco Júnior Aquino, que acompanha com a Cáritas Diocesana os conflitos na região. "Falei da pressão política e econômica que existe em torno dos agrotóxicos e das terras, e que o Zé Maria era um líder contra as injustiças".
O líder comunitário, José Maria Filho, denunciou problemas socioambientais e econômicos que vitimam trabalhadores na Chapada do Apodi. Morreu no Dia Mundial da Terra.
Por acompanhar de perto há vários anos os conflitos sociais na região jaguaribana, em reportagens que denunciaram e deram repercussão nacional à problemática, o correspondente do Diário do Nordeste, Melquíades Júnior, também recebeu o pedido da Polícia Federal para contextualizar e dar sua impressão sobre a realidade social, política e econômica na região onde atuou José Maria.
"Basicamente fiz uma síntese dos fatos já publicados em matérias no Caderno Regional entre 2005 e 2009, em que pude contextualizar a atuação de José Maria nas denúncias sobre expropriação fundiária, falta de titulação de terras, conflitos entre posseiros e grileiros, bem como as contaminações por agrotóxicos. Ele era talvez a minha principal fonte jornalística nessas questões". Cópias das reportagens também subsidiaram o relatório.
Medo
Os agentes federais estiveram na comunidade de Tomé, onde morava José Maria Filho. "Percebemos o medo das pessoas de falarem sobre o caso. 'Ninguém viu nada, ouviu nada', mas estivemos no local onde ele foi assassinado. Ali próximo há pequenas casas, inclusive uma não muito distante. Mesmo tendo sido uma ação rápida, 25 tiros levam um tempo, e ninguém percebeu nenhuma movimentação, ou nem mesmo o carro em fuga?", indagou-se o agente federal, que pediu para não ser identificado.
Sem querer fazer juízo de valor, o agente federal apontou para fatores que diminuem a isenção das polícias Civil e Militar locais. Uma delas é a informação de que a Polícia Militar realiza abastecimento de veículos em combustível cedido por produtores rurais.
Informações: Diário do Nordeste / Reportagem e Foto: Melquíades Júnior

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