segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Em Limoeiro do Norte, projeto promove a inclusão de crianças e adolescentes

O Projeto de Inclusão Social da Criança e do Adolescente (Pisca) é realizado na Comunidade do Cabeça Preta.
Existem várias formas de se combater a exclusão social. Uma delas é incluir o problema diretamente nas atividades que são desenvolvidas pelo poder público nas comunidades. Sem muito entremeio, numa comunidade em Limoeiro do Norte, localizada na região do Vale do Jaguaribe, com forte vulnerabilidade social, um projeto encontrou um modo de ocupar crianças e adolescentes que, excetuadas as cinco horas de colégio e as oito horas de dormir em casa, corriam o risco de fazerem mau proveito no resto do dia, e da vida. Na Comunidade do Cabeça Preta, na Chapada do Apodi, o Projeto de Inclusão Social da Criança e do Adolescente (Pisca) tem, com medidas simples, obtido resultados positivos.
É simples mesmo: para que a adolescente Juliana Silva, de 15 anos, fizesse do esporte um lazer só faltava a bola de vôlei e um instrutor. De repente, uma leva de meninos e meninas descobriu o voleibol. Um berimbau e um pandeiro, o capoeirista para ensinar, e a roda se abre com meninos que duelam sem que um toque o outro, e o que mais provavelmente seriam tabefes seguidos de vaias é "só" gingado e palmas ritmadas dos amigos; "xeque-mate" deixou de ser apenas uma expressão ouvida em filmes com alguma coisa parecida com "você já era" para agora se perceber uma jogada do xadrez. Apesar de considerada hoje tão natural e corriqueira, a prática desses esportes é o que há de novo numa das comunidades mais pobres da Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte.
Crianças e adolescentes utilizam o tempo livre, depois da escola, para as atividades físicas, como a capoeira.
O problema é palpável e a solução é prática: depois que saem do colégio, crianças e adolescentes não encontram o que fazer em casa, e também na carência de atrativos na própria comunidade, uma das mais pobres do Município, ocupam o tempo 'vagando' com os amigos, por onde encontram forte apelo nos vícios, principalmente o álcool, uma das drogas que mais mata. O fenômeno fica mais transparente no contexto de favelização percebido na Chapada do Apodi, onde, num irônico contraponto da desigualdade social, está uma das maiores riquezas agrícolas do Nordeste, produtividade milionária em frutas para exportação. Mas foi lá que somente aos 15 anos de idade a menina Juliana, assim como a irmã Lucilene, de 13 anos, descobriu o vôlei. "Estou adorando", resume.
Desde o mês de abril o Pisca atende aproximadamente 120 pessoas entre sete e 15 anos, engajadas em capoeira, futebol, vôlei e xadrez. Além disso, participam de outras atividades socioeducativas, como palestras sobre temas atuais, numa parceria entre a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social e Cidadania e a Secretaria da Educação, que disponibiliza psicopedagogos, que conhecem os alunos com maior dificuldade de aprendizado escolar e buscam estratégias de solução, juntamente com as famílias.
Prática de lazer de forma sistematizada era reivindicação antiga dos moradores de Cabeça Preta, já que o único espaço de socialização é uma quadra esportiva onde tudo é realizado e, ao mesmo tempo, quase nada, numa comunidade que ficava a maior parte do tempo parada. A Escola Municipal de Ensino Fundamental Joaquim Gadelha, da comunidade, nem ao menos possui área de lazer que não seja apenas um pequeno pátio na frente das salas. Mas foi lá nessa escola que o Pisca se fez sentir. A prova é que até as brigas de colégio diminuíram, segundo o diretor José Aristides.
VULNERABILIDADE
Ação quer reduzir índice de gravidez e uso de drogas
Na comunidade de Cabeça Preta existem 283 famílias e 331 jovens na faixa etária de sete a 15 anos. Nos últimos anos, a comunidade deixou de ser uma isolada vila para aumentar seu dinamismo por ser muito próxima dos perímetros irrigados que produzem frutas para exportação. Mas a ampliação dos atendimentos sociais e de saúde não impediram que a comunidade rural sofresse um processo de favelização. Dentre as metas do Projeto de Inclusão Social da Criança e do Adolescente está a redução da gravidez precoce e o consumo de drogas entre esses menores de idade.
De acordo com Sandra Bessa, da Secretaria da Assistência Social de Limoeiro, o Projeto de Inclusão da Criança e do Adolescente (Pisca) prevê uma abordagem mais ampla de inserção. "A participação das famílias é determinante para o bom andamento das atividades". E quem confere isso de perto é a articuladora Rosileide Fernandes, da própria comunidade e que, responsável por coordenar a meninada e os instrutores das atividades, atua mais como voluntária do que pelo pagamento que mais parece uma gratificação. Preocupada com a juventude da comunidade, a primeira fala de Rosileide foi dizer que "seria importante que tivéssemos uma cobertura para essa quadra, daria até mais gente, porque hoje, para evitar o sol quente demais, eles precisam madrugar para chegar cedo, ou então virem à tardinha e à noite".
Dentre as metas do Pisca estão a redução em 45% do consumo de drogas por crianças e adolescentes e em até 65% os índices de violência na comunidade. Os problemas sociais seguem uma nova dinâmica: a transferência de função para o então agricultor familiar, agora um funcionário agrícola, resultado da expropriação de terras e da posse de grandes produções. Depois de uma semana inteira trabalhando dia e noite, é no fim de semana que muitos moradores encontram lazer no bar, na bebida e nas drogas ilícitas. A cena se torna mais lamentável quando os próprios adolescentes acompanham os pais.
Outro esporte praticado pelos jovens de Limoeiro do Norte, que participam do Projeto de Inclusão da Criança e do Adolescente (Pisca), é o futebol, que tem grande participação.
Favelização
A "favelização rural" da comunidade é atenuada com a aquisição de serviços básicos: escola, atendimento de saúde, e incrivelmente um bola de futebol ou de vôlei, fornecidas pelo Pisca. No contra-turno das aulas escolares, há meninos e meninas afoitos descobrindo a brincadeira, debatendo sobre as coisas que a "tia" orienta, tirando notas boas, porque senão é advertido e retirado do Projeto, que virou a principal estratégia de lazer para centenas de crianças e adolescentes da Chapada do Apodi. "A minha mãe não quer que eu pare com a capoeira, que deixa a gente mais educada", define Josiana Freitas, de 10 anos. Coordenado pelo Centro de Referência da Assistência Social (Cras), o Pisca é realizado pela Secretaria Municipal da Assistência Social, "e pretendemos encontrar meios de ampliar, sempre buscando as áreas de maior vulnerabilidade social", explica o secretário municipal, Pedro Luciano. No próximo dia 28, serão entregues 80 uniformes e mais instrumentos para as rodas de capoeira e fardamento para o time de futebol.
A primeira edição do Pisca deve seguir até o mês de dezembro. O projeto era uma reivindicação da própria comunidade, atendida desde o mês de abril, quando começaram as atividades. Outras comunidades em áreas de risco social também devem ser atendidas no ano que vem pelo projeto que educa e livra os jovens da ociosidade.
Mais informações:
Projeto de Inclusão Social da Criança e do Adolescente (PISCA)
Limoeiro do Norte
(88) 3423.1340
Informações: Diário do Nordeste / Reportagem e Fotos: Melquíades Júnior

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