domingo, 30 de novembro de 2008

Transferência do Encontro Mestres do Mundo causa polêmica

Transferência do Encontro Mestres do Mundo de Limoeiro para Juazeiro do Norte causa polêmica entre os moradores da região.
Polêmica à vista. “Fomos tomados de assalto. A população de Limoeiro do Norte é a principal vítima da ausência do festival”, foi o que afirmou o prefeito João Dilmar, de Limoeiro do Norte, sobre a retirada do Encontro dos Mestres do Mundo da cidade, que sediava o evento desde o surgimento, em 2005.
Mais do que o fator surpresa da notícia da transferência para Juazeiro foi o lamento, dos produtores culturais e empreendedores turísticos da região jaguaribana, da fuga de um evento que estava em processo de consolidação para a realidade de Limoeiro e municípios vizinhos. “Por que o Cariri, que já é um celeiro natural de mestres da cultura? A idéia de descentralização das políticas públicas culturais volta à estaca zero”, reclama o produtor cultural e músico Eugênio Leandro.
Quando surgiu o Encontro dos Mestres do Mundo, a primeira pergunta era sobre o que era o evento. Depois que mestres da cultura tradicional popular daqui e de vários estados começaram a exibir os trabalhos, dançar, apresentar-se e dialogar com os jaguaribanos, a boa acolhida foi inevitável pelos limoeirenses, que o diga a mestra do reisado Margarida Guerreiro, mesmo doente fez questão de dizer à família que “quero ir pro Limoeiro”. Entre 2003 e 2005, as principais lembranças que recorriam à mente de qualquer um visitante ou distante que ouvisse falar na cidade, lembraria da Chacina de Limoeiro – sete vítimas aleatórias, ceifadas com tiros na cabeça e orelha posta na boca – e do assassinato do radialista Nicanor Linhares, caso de pistolagem que ganhou repercussão internacional e teve reclame da Organização Interamericana de Imprensa.
“Mas Limoeiro não é isso, esse mar de violência, apesar dessas tragédias, essa é a realidade vista como predominante para quem está de fora”, afirmou a então secretária da Cultura do Estado, antropóloga Cláudia Leitão, para justificar a intenção de “descentralização” das ações culturais que não se limitassem ao já culturalmente concentrado Cariri. De 2005 a 2007, a cidade inseriu o encontro dos mestres no seu calendário cultural, sempre entre os meses de agosto e setembro. Era a oportunidade para o ator e produtor Frank Lourenço, de Russas (apenas 30 km distante), encontrar sujeitos culturais, para trocar figurinhas e até conseguir levar seu grupo teatral Oficarte a outras paragens. Antonio Manoel, o “Toinho”, atual secretário da cultura em Quixeré, arrumava seus boi-bumbá e os bonecos gigantes que confecciona para desfilarem na passarela cultural que se formava em Limoeiro durante seis dias de evento.Titulada mestre da cultura pelo Governo do Estado, dona Lúcia Pequeno é uma das artesãs mais populares da região do Vale do Jaguaribe. (foto: Neysla Rocha)
Região de conhecido desenvolvimento cultural – daí a alcunha de Princesa do Vale – a cidade de Limoeiro do Norte possui faculdades em atividade, além de poetas, historiadores, escritores em plena criação; e pelo menos dois mestres da cultura, antes desconhecidos dos próprios munícipes, eleitos pelo Governo do Estado: Lúcia Pequeno (artesanato em barro) e Antônio Nogueira (Boi-Bumbá). “Então é toda uma realidade cultural, que a cidade começava a absorver com o Encontro dos Mestres do Mundo, que quando estava enraizando, foi tirada da gente. Eu reclamei ao Cid Gomes, que tinha ficado muito insatisfeito com o secretário da Cultura Auto Filho, por ter tirado o Encontro sem ao menos perguntar o que a gente achava disso. O secretário Auto veio com conversa de que foi uma determinação do Ministério da Cultura. Eu não acredito nisso de maneira alguma, pois o Ministério foi consultado. Foi ele mesmo, o secretário, que, não sei o motivo, ou por pirraça mesmo, tomou o Encontro dos Mestres do Mundo da gente”, afirma o prefeito João Dilmar, acrescentando que “não sou eu que estou reclamando como político, é a população do Vale do Jaguaribe, era o maior evento cultural que a região tinha, que nos foi roubado, essa é a verdade”, completa.
Com o mesmo tom de indignação, o músico Eugênio Leandro defende que o Cariri “já é um grande celeiro de Mestres da Cultura. Esses mestres gostam quando saem do Cariri, veêm para a região jaguaribana. E foi uma oportunidade de os nossos mestres locais conhecerem essa movimentação toda. O braço da cultura, e das políticas culturais, estava alcançando o Vale, de repente volta tudo como era antes. É preciso potencializar outras regiões do Ceará, e a população de Limoeiro havia conseguido legitimar os Mestres do Mundo, e olhe que a legitimação cultural demanda esforço, agora a cultura do Estado volta a se resumir a Fortaleza e o Cariri, é isso?”. Ainda em Limoeiro, o setor turístico rico em hotéis e pousadas – ainda que a cidade não seja praiana nem de romaria religiosa – lamenta a saída do único evento que, todos os anos, representava a alta estação de hospedagem. E para não ficar no desgosto, Limoeiro do Norte sediará pela primeira vez, no próximo mês, o Festival Nacional de Trovadores e Repentistas.
Fonte: Diário do Nordeste / Reportagem: Melquíades Júnior

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