Semana de Geografia busca trabalhar a questão do semiárido e discutir meios de reverter a degradação ambiental.
Quando, nos últimos dez anos, os pesquisadores da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam) alertavam para a insustentabilidade na utilização dos recursos naturais do Vale do Jaguaribe, o discurso não ganhava eco. Tempos depois, diante de desertificação, contaminação do solo e exaustão dos recursos naturais do Vale do Jaguaribe, a Semana de Geografia, que segue até sexta, ganha a atenção fora dos espaços acadêmicos. A programação conta com palestras e minicursos que vão discorrer sobre as estratégias de convivência com o semiárido.
"Existe uma clara ênfase na discussão dos problemas da região, em que o sertão é situado não somente no espaço da depressão sertaneja, mas também em sua extensão litorânea, e estamos num contexto de maior envolvimento da academia com a comunidade", afirma a professora Érika Brito, coordenadora da Semana de Geografia da Fafidam. A participação de pessoas que são diretamente afetadas pelos problemas nas discussões acadêmicas é pontuada pela professora, "mas essa interação se dá principalmente por meio dos projetos de extensão", coloca. É o caso de ações que oferecem assistência técnica ao homem do campo.
Desafios do semiárido: ao sair da definição do sertão como uma região problema, buscam-se alternativas de convivência sustentável e de recuperação do que já foi perdido. (Foto: Adjacir Cidrão)
Com o sertão deixando de ser visto como uma região problema, as alternativas de convivência com o semiárido viraram pauta permanente no enfrentamento dos problemas do homem sertanejo, nem sempre contempladas nas políticas públicas. A utilização sustentável dos recursos hídricos e do solo colocaram a região jaguaribana na berlinda em discussões como do uso de agrotóxicos pelas grandes empresas agrícolas. As maiores delas, que completam quase uma década de atuação, anunciam a saída da região. Casos de câncer, contaminação por agrotóxicos, diagnóstico de água subterrânea com venenos e metais pesados alertaram para os dilemas geográficos e socioeconômicos enfrentados nas zonas rural e urbana.
Em seis minicursos, serão colocados diagnósticos ambientais, propostas de turismo comunitário, dinâmica dos ambientes fluviais, considerações sobre o direito ambiental, implicações dos fenômenos da seca nas disputas políticas do Ceará, a poluição ambiental e o ecoturismo em unidades de conservação. Além disso, grupos de discussão abordarão a cobertura da mídia nos movimentos sociais, a fome no semiárido.
A Semana de Geografia da Fafidam terá, hoje, quarta-feira (02/12), a apresentação de trabalhos e mesa redonda sobre degradação ambiental no semiárido, pelos professores Lucenir Chaves, Jacqueline Lustosa (UFCG) e Edson Vicente da Silva (UFC). Amanhã a discussão será sobre desenvolvimento regional, pelos professores Cícero Moreira da Silva (Uern) e Levi Furtado (UFC). No encerramento, o ativista social Rodrigo Lima, da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte, tratará das alternativas de convivência com o semiárido.
Fique por dentro
Novas concepções
A Semana de Geografia da Fafidam traz como tema "Semiárido Nordestino - natureza, sociedade e cultura". O tema foi apresentado ontem pelos professores Érika Brito, Claudia Grangeiro e Olivenor Chaves. A região também conhecida como Polígono da Seca compreende uma extensa área territorial composta pela maior parte de todos os estados nordestinos e o norte de Minas Gerais. Apresenta clima seco e quente, pouca chuva (as precipitações ficam em torno de 500 mm) e má distribuição durante o ano, alto índice de evaporação e salinidade, uma vegetação típica (Caatinga), rios temporários e secas periódicas. O estudo mais atualizado sobre o semiárido foge dos clássicos argumentos que põem a região como um problema, e reflete sobre os modelos propostos de desenvolvimento para a região, muitas vezes baseado na grande produção, insustentável ambientalmente.
Mais informações:
Semana de Geografia
Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam)
(88) 3423.6962
Informações: Diário do Nordeste / Reportagem: Melquíades Júnior
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