sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Chuvas deixam Passagem Molhada intrafegável

Com o novo prognóstico da Funceme, aumentam expectativas quanto as chamadas águas de março.
Entre a previsão científica e a tradição profética há uma crença inconteste: já estamos no período chuvoso propriamente dito, e terá mais água em março que neste fevereiro. O último prognóstico da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), aponta chuvas 45% acima da média histórica no Ceará, com exceção das regiões de Inhamuns e Cariri — dentro da média. Herança dos anos anteriores, os açudes estão com maior acúmulo da capacidade – 70,5% nos 64 principais. Também se acumulam, desde o descaso em anos anteriores, os problemas explicados pelas enxurradas e causados pela precária infra-estrutura onde não se pode ver muita água. Passagens molhadas que ligam municípios ficam intrafegáveis, porque esburacadas, depredadas e esquecidas pelo poder público. Mas até que ponto os estragos são culpa das chuvas?
O cearense, principalmente do Interior rural, tem nos meses de março, abril e maio os mais importantes do ano. Pudera, “é inverno”. As chuvas de verão — no Brasil, o inverno mesmo é seco — banham as crianças, enchem os açudes, irrigam a lavoura e lavam a alma do agricultor que espera vender o milho, o feijão e as frutas cultivadas em sequeiro. Mas o Ceará parece não estar bem preparado para as águas. Em pelo menos 69 cidades, segundo a Defesa Civil do Estado, há riscos de alguma coisa desabar ou ser arrastada pelas correntezas dos rios. Em Tabuleiro do Norte, duas chuvas “boas”- de 50mm – são suficientes para tornar intrafegável a Passagem Molhada que liga o município a Limoeiro do Norte.
Passagem molhada em Tabuleiro do Norte volta a ficar alagada e é interditada.
Construção irregular e imprópria, conforme apontam engenheiros ouvidos pela reportagem, a ponte, que é um trecho da rodovia CE-377, passa no meio do Rio Jaguaribe. Custou R$ 250 mil aos cofres públicos do Estado, sendo inaugurada em 2003 pelo então governador do Estado, Lúcio Alcântara, que passeou de bicicleta pela estrada, que substituía uma frágil ponte de madeira. Nas primeiras chuvas de 2004, a passagem voltou a ficar alagada, interditada e deu lugar aos velhos e arriscados barcos – no ano passado, duas canoas viraram, mas os 30 passageiros foram salvos.
Na manhã de ontem, quando estava menor o volume de águas no Rio, pedestres e motoristas se arriscavam na travessia “a seco”, mas com pelo menos 70% da estrutura cedendo. “Eu preciso ir pro outro lado”, afirmou José Saldanha, que mora em Tabuleiro e estava no lado de Limoeiro, para onde viaja todo dia a trabalho. Assim, evita os 30km a mais que percorreria pela BR-116. Conforme o engenheiro do Departamento de Edificações e Rodovias do Ceará (DER) em Limoeiro, Francisco Peixoto, o que é preciso para reconstruir a passagem de Tabuleiro é comparável ao que se desembolsaria com uma ponte tradicional, mais resistente e bem acima do nível da água.
“A obra é de responsabilidade do Governo do Estado, mas é muito importante para o município e o que cabe à Prefeitura Municipal estamos fazendo. Até no ano passado fomos nós que tapamos buracos na rodovia para diminuir os transtornos da população”, garante o prefeito de Tabuleiro, Raimundo Edinardo, informando ainda que incluiu a ponte em projeto enviado à Defesa Civil, apontando a obra estragada pelas chuvas, para que se habilite em receber recursos federais para as áreas de risco. Reconstrução da ponte e reformas na estrada somam aproximadamente R$ 1,2 milhão.
Acima da média
Mas poucas coisas se comparam à passagem molhada, sobre o mesmo rio, situada no município de São João do Jaguaribe. Ao custo aproximado de R$ 450 mil, com apenas dois meses a obra foi, literalmente, por água abaixo, em março do ano passado, e destruída está até agora. E vem chuva. O último prognóstico da Funceme, em 19 de fevereiro, apontou 35% de probabilidade de chuvas dentro da média histórica, 20% abaixo da média e 45% acima da média. São esperadas chuvas mais intensas entre março e abril. O fenômeno “La Niña”, no Pacífico Equatorial, favorece as chuvas no Ceará. No Cariri, a situação não é confortável. Segundo o meteorologista David Ferran, da Funceme, de janeiro até a semana passada choveu, naquela região, 44% abaixo da média, enquanto no mesmo período em 2008 as chuvas superavam os 50% acima da média.
Avaliando a afluência pluviométrica (o que vai das chuvas para os açudes) e a previsão de chuvas, Funceme, Cogerh e Dnocs reúnem-se toda semana para traçar estratégias com os reservatórios. Os 130 principais açudes monitorados pela Cogerh no Estado do Ceará estavam, até ontem, com 69,2% da capacidade. Para o coordenador estadual do Dnocs, Eduardo Segundo, os açudes com situações mais preocupantes, principalmente para abastecimento humano, são o do Cedro, em Quixadá, com apenas 5,5% da capacidade; Bonito, em Ipú, com 15% e Farias Sousa, em Nova Russas, com a mínima de 3,2%.
O Açude Castanhão está com 78,5% da capacidade, na cota 102,32 metros. A continuarem as chuvas em ritmo crescente, as comportas devem ser abertas nos próximos dias, “para manter a quantidade de água que entra no reservatório, embora o ´pulmão´ da capacidade do reservatório ainda coubesse um Banabuiú inteiro”, diz Ricardo Adeodato, diretor de operação da Cogerh. A expectativa na região já é sentida entre moradores.
Fonte: Diário do Nordeste / Reportagem e Foto: Melquíades Jínior

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