sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Funceme avalia risco de agrotóxicos em água

Prevista para terminar em agosto/2009, pesquisa da Funceme investiga possível contaminação de água por agrotóxico.
De onde vem a água que se bebe? A pergunta pode ser respondida com “dos vários reservatórios, que se alimentam das chuvas e segue nos rios, como o Jaguaribe”. Mas o que vai para o rio de onde é retirada a água que se bebe? Essa dúvida é verificada por pesquisadores que tentam saber o impacto dos agrotóxicos usados nas lavouras agrícolas na qualidade dos recursos hídricos. Pesquisadores da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) recolhem amostras de água em Morada Nova para saber possíveis impactos dos agrotóxicos do perímetro irrigado na população local e no meio ambiente.
No Perímetro Irrigado de Morada Nova, trabalhadores utilizam agrotóxicos no cultivo de arroz, o que pode provocar a contaminação dos recursos hídricos e dos próprios agricultores.
O projeto de pesquisa avalia a presença de agroquímicos nos recursos hídricos superficiais e subterrâneos (lençol freático) nas áreas de influência do Perímetro Irrigado de Morada Nova, onde são usados vários tipos de agrotóxicos para combater as pragas na lavoura — destaque para a produção de arroz. Há quatro anos, o manejo incorreto no combate a pragas e predadores nas áreas irrigadas provocou outra praga, desta vez, de ratos, que destruiu a plantação.
São realizadas coletas e análises físico-químicas, bacteriológicas e de agroquímicos em amostra de água. O projeto de pesquisa é coordenado por Magda Almeida com os pesquisadores Ana Lúcia, Gilberto Mobus e Valdenor Nilo, todos da Funceme, em convênio com o Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fundeci), do Banco do Nordeste.
O foco do estudo é verificar as águas utilizadas para o abastecimento doméstico e as possibilidades de reuso da água da drenagem nesses perímetros irrigados. Iniciada em 2007 com previsão de término em agosto deste ano, a pesquisa já levantou cerca de 70 depoimentos de irrigantes em questionários aplicados sobre as condições sanitárias da região e dos principais agrotóxicos usados no Perímetro. Também é avaliado o nível de dispersão dos agrotóxicos e fertilizantes ao longo do rio no perímetro.
Os pesquisadores ainda pretendem conscientizar a população sobre o uso de agrotóxicos e gerar informação para o aperfeiçoamento da gestão qualitativa dos recursos hídricos. Os perímetros irrigados espalhados no Vale do Jaguaribe tem sido alvo de pesquisadores que avaliam o impacto da utilização de agrotóxicos. O caso mais evidente acontece em Limoeiro do Norte, onde são consideradas possíveis contaminações de famílias e trabalhadores rurais com os produtos químicos utilizados em larga escala no pólo agrícola da fruticultura.
As suspeitas são levantadas por registros de irritações na pele e nos pulmões, relatados por moradores da Chapada do Apodi, em Limoeiro, que convivem com a vizinhança das empresas agrícolas; e doenças cujos principais sintomas são redução de glóbulos sangüíneos, seguidos de problemas no fígado, gastrointestinais, etc. Dezenas de médicos pesquisadores têm feito estudo de casos. A possibilidade de provocar o câncer é uma das maiores preocupações da população local. Em apenas sete anos foram registrados 190 novos casos de câncer em Limoeiro, a maior incidência em agricultores.
Segundo Magda Almeida, química industrial e coordenadora do Projeto Agrotóxicos, o Perímetro-Irrigado de Morada Nova (PIMN) foi escolhido por ser o mais antigo do Ceará. “Temos vários relatos de pessoas que aplicam os produtos químicos, e depois passam a ter tonturas, intoxicações, irritações na pele e até desmaios. A maioria dos trabalhadores não usa qualquer equipamento de proteção. Alguns ainda usam máscaras, mas é raro encontrar”, afirma. Casas e plantações recebem água do lençol subterrâneo e do Rio Banabuiú, com suspeita de receber de retorno a água contaminada. Herbicidas e fungicidas são os produtos mais utilizados, principalmente na plantação de arroz, predominante no perímetro.
CÂNCER
190 novos casos de câncer foram registrados em Limoeiro do Norte, sendo a maior incidência entre agricultores que foram expostos ao trabalho de aplicação de agrotóxicos na agricultura.
Mais informações:
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme)
Avenida Rui Barbosa, 1246, Aldeota, Fortaleza
(85) 3101.1088
Fonte: Diário do Nordeste / Reportagem: Melquíades Júnior

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