domingo, 24 de janeiro de 2010

Decreto do SUS assegura verba para cadeirantes

Dar um grande passo na vida sem pôr os pés no chão é o que faz as pessoas que precisam de cadeiras de rodas.
Sair de casa, mesmo que por algumas horas, e respirar o ar da calçada, visitar os outros lugares da cidade, a igreja, a escola, a praça, e saber o que se passa na rua de trás pode parecer simples, mas foi um grande passo dado por famílias com pessoas portadoras de necessidades especiais em Limoeiro do Norte. Sem ser caridade, mas sensibilidade para obedecer ao que determina o Decreto-Lei nº 63, que complementa a legislação do Sistema Único de Saúde (SUS), 42 pessoas foram beneficiadas com cadeiras de rodas e outros equipamentos de mobilidade individual. Em alguns casos, foi o primeiro equipamento em mais de dez anos de reclusão involuntária, em vidas resumidas ao fundo de uma rede de balançar.
ERMÍLSON e NEY, com os filhos Daniel, Natália e Ezequiel. Com a cadeira de rodas para a filha mais velha, a vida de toda a família está mais feliz, um benefício assegurado por lei.
Quarta-feira, 20 de janeiro, foi um dos dias mais felizes na vida de Ermílson da Costa, de 42 anos. Passados Natal e Ano-Novo, não teve presente para os filhos, "que o dinheiro é pouco", mas o presente que levava para casa valia por todos os outros que não deu. Embrulhado em um saco plástico, a tão sonhada cadeira de rodas para Natália, sua filha mais velha.
Enquanto não aparecia um carro que o levasse para casa, o homem chorava, para se fazer de forte meia hora depois, quando a caminhonete parou numa rua pequena e sem calçamento no Bairro Luis Alves de Freitas. "A casa é ali, onde tem um monte de barro na frente", orienta.
Descem da caçamba o pai e o presente. Do lado de fora, os filhos mais novos, Daniel e Ezequiel, já esperavam ansiosos. Natália estava onde sempre esteve: na rede armada na sala. A mãe lhe fazia companhia para dar o remédio, porque a menina tinha febre. "De vez em quando ela amanhece doentinha", conta a mãe, Ney Rodrigues da Costa, de 44 anos, sobre sua filha, que nunca soube o que é andar com as próprias pernas. Nem segurar um copo.
Parto difícil
Prestes a ter o bebê, Ney foi levada pelo esposo Ermílson para o Hospital Regional de Limoeiro (antigo SESP). Natália nasceu com a cor roxa e sem oxigênio. "Foi muito difícil, pensei que ela fosse morrer, disseram que tinha passado da hora", conta Ney sobre o começo da história de Natália Rodrigues da Costa, há 10 anos. A menina só sai de casa para o consultório médico ou para a casa da tia, que mora vizinho. Ermílson não tem televisão em casa, e à noite se distrai com a filha vendo filmes em DVD na casa da tia. A mãe só não leva a criança para assistir aos cultos na Igreja Evangélica, "porque eu vou levando o Daniel, de nove anos, e o Ezequiel, de quatro, e ele só volta dormindo, aí num dá pra trazer os dois nos braços".
No primeiro dia da primeira cadeira de rodas da filha, Ermílson da Costa foi o último a sair de perto de Natália após a foto com a cadeira de rodas que, a partir de agora, "faz parte da família", disse. Natália deu um grande passo na vida, sem precisar para isso pôr os pés no chão.
São 42 pessoas diretamente beneficiadas com 20 cadeiras de roda, oito coletes ortopédicos, quatro botas ortopédicas e 10 pares de muletas doados pela Secretaria Municipal da Saúde de Limoeiro do Norte. Não é um projeto municipal, mas um decreto nacional, do próprio SUS, que determina a doação de equipamentos de órteses e próteses para pessoas com deficiência e de comprovada carência econômica.
A maioria dos municípios faz vista grossa ou simplesmente desconhece o decreto, levado a prática pela então secretária Célia Costa Lima, primeira-dama do município, por reivindicação do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência, presidido pela cadeirante Arnete Borges, também coordenadora do Núcleo das Pessoas com Deficiência da Secretaria Municipal da Saúde.
"A política nacional das pessoas com deficiências está aí, e a gente está organizando o que é direito, e fazendo um cadastro das pessoas com deficiência no município", comentou Arnete que, no ano passado, mobilizou o município para a obediência à Lei da Acessibilidade, retirando obstáculos nas calçadas das casas em Limoeiro do Norte. A medida foi uma das pioneiras em cidades do Interior.
DIREITOS
"Precisamos que todos os gestores municipais se sensibilizem para atender aos nossos direitos". ARNETE BORGES - Presidente do Conselho dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
MAIS INFORMAÇÕES:
Secretaria Municipal da Saúde de Limoeiro, (88) 3423.1519
Conselho dos Direitos da Pessoa com Deficiência, (88) 9249.5111
Informações: Diário do Nordeste / Reportagem e Foto: Melquíades Júnior

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