terça-feira, 12 de maio de 2009

Medo e tensão nas cidades do Jaguaribe

Agora são 1.000 m³/s de água saindo do Castanhão, comprometendo a vazão do rio Jaguaribe, já cheio, provocando tensão nos municípios do Baixo Vale que ainda nem se recuperaram das cheias do início do mês.
Voltou a chover forte na região do Jaguaribe na madrugada de domingo para segunda. Só em Morada Nova foram 139,2 milímetros. Com tanta água, não deu mais para segurar a vazão do Castanhão em 870 metros cúbicos (m³) por segundo, volume alcançado no último sábado. O maior açude do Estado acumula 96,5% de sua capacidade total de armazenamento.
Nesta segunda-feira (11/05) a Companhia de Gestão dos Recursos Hidrícos (Cogerh) aumentou a fenda das quatro comportas abertas de 2,25 para 2,75 metros. A operação elevou a saída de água para 1.000 m³, chegando bem perto do volume de entrada, estacionado em 1.050 m³ por segundo.
Em Limoeiro do Norte, curiosos acompanham o aumento do nível das águas na Barragem das Pedrinhas e rios que cercam o município.
A água liberada cai no leito do rio Jaguaribe e deve provocar novas inundações nos municípios localizados no chamado Baixo Vale, especialmente em Itaiçaba, Jaguaruana, Russas, Limoeiro do Norte e Tabuleiro do Norte. Para piorar, o açude de Banabuiú, o terceiro maior do Ceará, também teve que aumentar a saída de água. Agora despeja 900 m³ por segundo no rio Jaguaribe. “Essa é uma notícia muito ruim. Não quero alarmar o povo, mas o impacto disso é grande”, preocupa-se Luis Lopes Pinheiro, coordenador da Defesa Civil de Jaguaruana.
O município já conta 1.250 famílias desalojadas, sem somar as que foram para a casa de amigos ou parentes. Não há mais espaços para abrigos. Os seis distritos da zona rural estão isolados. “Não sei como vai ser. Já estamos com 22 abrigos. Não tenho nem lona para levantar barracões. O Governo do Estado vai ter que ajudar. Vem água aí e não demora”, desabafa Luis.
Grande parte da sede do município continua alagada. São pelo menos cinco bairros. O Tabuleiro é um que permanece com água na canela. Seu Serafim da Silva, 50, resistiu, mas teve que deixar a casa no domingo. Oito dias antes, a família já tinha ido para uma das várias escolas que servem de abrigo. “De manhã achei que tinha baixado (o rio), mas só Deus sabe quando isso vai acabar. Já subiu de novo. A água lá em casa dá no joelho”, conta desgostoso.
No fim da tarde, uma dezena de moradores circula pela área alagada. Cumprem a segunda visita diária aos domicílios abandonados. Abrem as janelas, deixam o ar entrar, conferem o estado dos móveis e marcam território. “Por isso não saio. A gente tem que pastorar a casa, pastorar as coisas que leva para o abrigo e ainda se amontoar com um monte de gente”, diz Maria Vilani Dantas, 48. Ela está ilhada no Tabuleiro. Tem mais de 0,50 centímetros de água na porta da frente e dos fundos, mas insiste em ficar. “Já deu água de ponta a ponta na casa, mas raso. Agora diz que o Castanhão tá jogando muita água. Depois disso não sei se vou poder continuar aqui”, lamenta.
Em Itaiçaba, ainda de manhã cedo, o clima era mais tranquilo. A sede do município está completamente alagada desde o início do mês, mas aos poucos algumas ruas vão secando. Na esquina da avenida principal, dois botes amarrados ao poste sintetizam o cenário. Todas as casas estão fechadas.
Correria
A coordenação da Defesa Civil e toda a administração de Itaiçaba estão funcionando num colégio no distrito de Alto Brito, onde está concentrada 60% da população de oito mil habitantes. Em vinte abrigos, dividem-se 1.800 famílias. “Agora que a coisa acalmou estamos tentando nos organizar. Na semana passada foi uma correria”, diz o coordenador da Defesa Civil, Marcos Vinicios Vieira.
A chegada de mais água do Castanhão pode repetir a agonia, mas Marcos acredita que o município tem tempo hábil para remover moradores de áreas que venham a ser afetadas. No domingo, o prefeito da cidade, Frank Gomes, já pensava em retirar cerca de duas mil famílias de cinco comunidades rurais. “O rio baixou uns 30 centímetros pra aguentar a água que vem aí. A vantagem é que ela chega de forma gradual. Temos até quarta-feira para fazer qualquer retirada. Para não deixar a população alarmada, temos que agir com calma”, diz.
E MAIS
> O Governo do Estado prometeu liberar R$ 300 mil para Itaiçaba. O recurso deve chegar em vinte dias. “Demora porque a burocracia é grande, mas já está garantido, isso é o mais importante”, diz o coordenador da Defesa Civil do município Marcos Vinicios Vieira.
> Em alguns abrigos de Itaiçaba, a Prefeitura está utilizando banheiros sépticos. O vaso sanitário é posicionado em cima de um buraco com fundo de cal. Quando o espaço vai ench endo, aquele buraco é tampado e abre-se outro ao lado. Nos abrigos, essa é a maior dificuldade. Na olaria que abriga 80 famílias, por exemplo, são três chuveiros e quatro banheiros.
> O Canal do Trabalhador passa no meio do município de Itaiçaba e transbordou com a cheia. A obra desviou o curso do rio Palhano para a calha do riacho Araibu. “Veja bem, a calha de um rio correndo num riacho”, frisa Iomar de Araújo, agente rural da Prefeitura. O Araibu estourou há cerca de duas semanas e isolou cinco comunidades da zona rural. Para chegar em algumas, é preciso pegar até três canoas.
Informações: OPOVO.com.br

Um comentário:

Laguardia disse...

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