domingo, 10 de maio de 2009

Mães comemoram seu dia nos abrigos

Longe de casa, mas perto dos filhos. Não importa se na casa própria ou em alojamentos, o melhor abrigo das crianças desabrigadas é mesmo o colo da mãe. Neste Dia das Mães, milhares dessas mulheres estão desabrigadas em todo o Nordeste, mães que, nos alagamentos, estavam mais preocupadas em salvar a vida dos filhos, porque “depois eu cuido de mim”, a desabrigada Luzia Nunes, de Itaiçaba, é mãe e sabe o que diz.
Mães desabrigadas vão ter passar o Dia das Mães nos abrigos improvisados pelas prefeituras. O pedido é que, ano que vem, tudo seja diferente.
As enchentes já fazem parte do histórico de muitas mães do Interior. Maria das Graças tinha sete anos quando precisou sair com a mãe, Francisca Maria, da Ilha de Santa Terezinha para uma escola-abrigo, no Centro de Limoeiro. Foi na cheia do rio Jaguaribe, em 1985. Hoje, dona Francisca volta a ser desabrigada com a filha, que aos 31 anos é mãe de cinco crianças. Agora quem tem sete anos é Juliana, Edevandro tem oito, Leila tem dez; Jeissi, 13 anos e a mais velha, Jéssica, tem 14 anos, mas já é casada, ou melhor, “junta” com um rapaz, com quem divide a sala-abrigo vizinha à da mãe.
Ao todo são dez pessoas, entre filhas, maridos e netos, que vivem às custas da aposentadoria de Francisca Maria. “A gente que é mãe não pode negar, né?”, justifica a viúva. Mas por enquanto todos estão abrigados na Escola Municipal Judite Chaves e sobrevivendo com o que é repassado pela Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social e Cidadania e pela Defesa Civil do Estado. São as crianças que dão um ar alegre aos corredores e salas das escolas e creches-abrigo. Correm para um lado e para o outro, jogam bola, dançam.
Glauberlândia Leite de Sousa, de 23 anos, brinca numa rede com a filha, tão nova que mal nasceram os dentes; a irmã Roberlândia, que também é mãe, divide essa mesma sala com o marido e a filha.
A matriarca da prole é Maria de Fátima Leite da Silva. As três mulheres sustentam as famílias fazendo faxina. Os maridos são desempregados. “A faxina que aparecer, eu tô pegando”, diz Glauberlândia, para explicar que não pode ficar sem trabalhar mesmo na condição de desabrigada – e principalmente por isso.
Por péssima ironia do destino, as águas levam para se abrigar nas escolas pessoas que, em sua maioria, por uns e outros motivos abandonaram os estudos escolares para casar, ter filhos, trabalhar, viver, repetindo a história da geração anterior, feito o rio que, também uma geração atrás, encheu ao ponto de mandar todos para longe. “Não sei o que explicar, nem o que vou sentir nesse dia, pois o que eu queria era estar na minha casa, mas ficou totalmente alagada”, afirma Maria do Socorro, mãe de gêmeos de quatro meses, em um abrigo de Jaguaruana, a cidade com o maior número de famílias desabrigadas. A força desta Maria está na esperança de criar os filhos, fazê-los crescer.
Mães que são mães e pais, tiram os móveis de casa, pedem ajuda para transportar, atravessam em canoas, montam o seu “cantinho” no abrigo, levando a meninada no colo, cozinhando para uma récua de gente, botando menino para dormir, enquanto aguardam as ‘águas baixarem’ para retornarem ao próprio lar, que em muitos casos não tem paredes tão concretas e consistentes quanto das escolas que servem de abrigo, mas é o ninho onde vive e, principalmente, cuidar dos filhos. Neste dia das mães, e enchente, a perseverança está no semblante de Neide Almeida, de Jaguaruana. No dia em que o açude Rosa de Luxemburgo arrombou e elevou as águas no bairro Lagoa Vermelha, a 20km da sede do município, sua bolsa rompeu-se e ali, no meio da enchente, Neide entrou em trabalho de parto. Ela, transportada em um barco da Defesa Civil, teve seu filho no hospital municipal, onde está neste Dia das Mães.
Fonte: Diário do Nordeste / Reportagem e Foto: Melquíades Júnior
FORÇA
"As mães desabrigadas são a principal força nesse momento de flagelo e também de confraternização".
Pedro Luciano
Sec. de Ação Social de Limoeiro

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